25 de nov. de 2008

Nuvens sempre querem encobrir o sol.
Não fosse assim não seriam nuvens.
Porque só chover já não basta.
É preciso cobrir o sol.
Roubar a luz.
Nuvens são falsas
Por trás de toda aquela fofura e brancura
Escondem partículas de gelo.
Adotam formas diversas.
Nuvens são volúveis,
Sempre levadas pelo vento.
Encombrem céu azul e sonhos,
Luz do sol e do luar
Transmutam toda cor em cinza
Trancam-me em casa. Trancam-me em mim.
*Há pessoas que, à primeira vista, pareceram-me fofas nuvens em lindo céu azul. Perdi horas vislumbrando qual forma tinham. Então revelaram o que escondiam: Chuva. Tempestade. Mas dissiparam-se. Volto a brilhar.


-Fabiane Ponte-

8 de nov. de 2008

Milagre

Promessa de doces frutos

Maduros no tempo certo

Sinaliza o lento germinar das sementes

Trazidas pelo vento, de terras desconhecidas.

Enquanto as gesto,

Transformam-se

Primavera em Verão

Dor em Impulso

Ansiedade em Contemplação.

Água em Vinho

-Fabiane Ponte-

27 de set. de 2008

De Vagar


O tempo
Caprichosamente
revela-se a mim
segundos plenos de eternidade
O tempo da fragrância
O olhar de relance
A vida
Teimosamente
revela-se a mim
Plenitude para espaços vazios
Intensidade para águas rasas
Eu
Resignadamente
acolho
Viver
o brevemente
Desejar
o eternamente
-Fabiane Ponte-

30 de ago. de 2008

Ossos

Para saber de mim

Vá além dos olhares e idéias

além da pele e da carne

Vá além até mesmo da alma

Chegue até os ossos.

Outros horizontes podem atrair os olhares

Idéias podem ser transformadas

Cada toque na pele causa uma dor ou um arrepio diverso

Carne vive, deseja e morre

Não há fonte que seja inesgotável à sede que tem a alma

Só os ossos ficam no final.

-Fabiane Ponte-

9 de ago. de 2008

Três mundos

Reparto-me em três
fagueira menina
ousada mulher
e a anciã de alma antiga.
Posso ser uma,
As três,
Nenhuma,
Mas outra misteriosa
Por vezes Id ou Superego
Pisando a terra
Mas o coração livre ao vento
e a cabeça imersa em água,
Contemplando muros
e sonhando pontes,
Morrendo com a primavera
Renascendo no outono
Ardendo no inverno


-Fabiane Ponte-

20 de jul. de 2008

Incompleta

Nunca andei por caminhos retos,
em rotas já descobertas
ou em linhas tracejadas.

Foi sempre o susto
De esperar campinas
e ver-se à beira de abismos,
de buscar o mar
e encontrar desertos.

Faltam-me bússola e astrolábio

Nunca realizei o sonho de ninguém,
nem dei as respostas certas
ou sentei-me no lugar marcado.

Foi sempre o susto
de colher amor
onde plantara lágrimas,
de sangrar-me em prantos
e ouvir Amém.

Faltam-me asas e garras

-Fabiane Ponte-

8 de jul. de 2008

Do deserto



As palavras me abandonaram.

Palavras têm vontade própria, e são sempre pescadas no ar, quando se está em vôo.

No momento, estou fixa, com os pés fincados na terra.

Aliás, terra não, areia.

Areia do imenso deserto no qual me encontro.

Atravessar desertos é uma árdua tarefa, ando até vendo miragens, estou tomada por uma sede imensa, e caminho com o objetivo de saciá-la.

Creio que, ao encontrar um oásis, conseguirei novamente alçar vôos e pescar palavras no ar.

Por ora, sigo caminhando...


-Fabiane Ponte-

22 de jun. de 2008

Eu sou a Pequena Miss Sunshine



É um filme do tipo "festa estranha com gente esquisita", mas traz sutis lições.

Será que estou correndo atrás do sonho certo?

Será que o sonho que busco realizar é meu mesmo ou me foi imposto e eu nem percebi, apossando-me dele como se fosse uma idéia original?
Quando desistir de correr atrás do sonho?

Atualmente, o ensinamento que chega até nós, seja vindo de livros de auto-ajuda, dos romances e até mesmo de algumas religiões é o de que você tem que ter um sonho, de preferência grande, e de que se deve lutar para realizá-lo com afinco, suportando sacrifícios, porque a recompensa só vem assim.

Você é medido pelo sonho que tem. E pelo modo que o realiza.

Achamos que somos especiais, fortes, determinados e eteceteras, mas, no fundo, só estamos realizando o que esperam de nós.

E o que esperamos de nós mesmos???

Não estou querendo dizer que não se deva ter objetivos, mas que, o mais importante é ter o objetivo certo!

O risco é realizar um sonho acreditando cegamente que foi sonhado por nós, mas na verdade, sonharam pra gente.

Nem sempre desistir é fraqueza.


-Fabiane Ponte-

9 de jun. de 2008

Moça má

Quando ninguém está olhando,
A postura altiva
daquela moça má
dá lugar a um encurvado abraço em si mesma,
e ela pode enfim descansar a dureza do olhar
e põe-se a fitar o horizonte.



- Onde os que aqui deveriam estar me amando?
- Onde os que mandei ir, e se foram?
- Onde aquele que ainda não veio, e que quando vier jamais partirá?


Quando rumores se aproximam
Ela corre ligeira
e os pés outrora descalços
que leves pisavam o chão em brasa
Se apertam em sapatos de salto.

Só lhe resta a secreta esperança
de que o destino reserve
para o final dessa história encenada
um final feliz também para os vilões.

-Fabiane Ponte-

3 de jun. de 2008

Do casulo ao jardim

Existem situações inteiras, ou pequenos momentos que se congelam na nossa mente.
É como se o tempo parasse. Nos deixam em suspense.
O problema, aliás, o problemão é que esse momento fica cristalizado só na nossa mente. Pro resto do mundo - inclusive para "aquela pessoa", o tempo continua correndo, e acelerado...
Ficamos alí, enraizados num fato que voou.
Contraditório? Muito!
Já disse uma vez aqui e repito:
Queria ter asas, e não raízes
Queria mais!
Queria ter asas de borboleta.
De casulo rompido, farfalar no jardim perfumado de uma alma fresca.
-Fabiane Ponte-

19 de mai. de 2008

Libertas quae sera tamen


Presa naquele porão, a única distração da menina é um pequeno feixe de luz que atravessa a frestra da janela, nas primeiras horas da manhã.


É a única forma com que ela interage com o mundo externo, e que permite que ela não esqueça de que ainda existe luz, apesar da escuridão a qual está condenada.


É o que lhe garante a sanidade para que não sucumba ao castigo do algoz.


Mesmo condenada à escuridão, ela sabe, vê, prova e comprova que há luz, e que esta é mais poderosa que as trevas.


Dentro dela mesma, pode ser livre e atravessar mundos, pois ainda que contemple tão pequeno raio de luz, sabe que o que vê é só uma parte do grandioso Sol, como ela mesma sabe-se imensa, plena e absoluta, ainda que com aparência de frágil menina aprisionada.


Ela aguarda, pacientemente, como aguarda uma lagarta presa em seu casulo e que, quando se liberta, já não é mais a mesma feia criatura, mas um delicado ser alado. Assim a menina espera acordar um dia, não mais no porão visitado somente por um tímido raio de luz, mas em um grande salão iluminado, e que finalmente seja revelado o que sempre foi, e quem sempre lá esteve.


-Fabiane Ponte-


11 de mai. de 2008

Mulheres sereias



Vou lhes contar uma história, mas em vez de começar pelo tradicional "Era uma vez", vou direto ao final, que não é feliz: Muitas mulheres com as quais você esbarra são sereiazinhas desprovidas de suas belas caudas e de suas encantadoras vozes.


Na versão original de Andersen, a Pequena Sereia salva o príncipe de um afogamento, e este se apaixona por aquela criatura linda e de belíssima voz. Fisgou, mas foi fisgado.


A sereiazinha, sabendo da impossibilidade de viver essa paixão, resolve tornar-se humana. Eu sempre me pergunto: Por que o principe não poderia ter virado um “sereio”? Como sempre, a mulher se molda.


Ela procura então uma feiticeira, e faz um pacto. A feiticeira lhe concede pernas em troca de sua bela voz. Avisou que a sereiazinha sentiria terríveis dores nas pernas para o resto da vida e nunca mais poderia voltar ao fundo do mar.


Ela parte então, à procura do seu príncipe, mas ele não a reconhece, porque se apaixonou por uma sereia de bela voz, e aquela que se apresentava a ele era uma menina muda... Concordam comigo que já viram essa estória?

Mudar, meus amores, é, claro, um processo natural e saudável na vida, mas não significa moldar-se ao gosto de ninguém. Abrir mão da própria essência e se tornar outra pessoa só pra agradar o outro não é prova de amor, é sim prova de falta de amor próprio. E quem não se ama, não pode ser amada!


De repente o homem ou a mulher da sua vida olha pro lado e pergunta: Cadê aquela pessoa que me encantou um dia? Ela olha e só vê uma versão dela mesma.


Ame, mude, mas não abra mão da sua essência.


Fique com a sua voz.


Fique com a sua cauda!!!


-Fabiane Ponte-

5 de mai. de 2008

Quase



És ainda o meu norte

quando deliro de febre

Mas meu mal dura pouco

E rumo em direção oposta.




No caminho de volta

Duas sombras me acompanham




Uma velha louca

chamada Razão

que me grita somente uma resposta: SIM




Uma moça muda

chamada Paixão

que com olhares e gestos

só me responde que NÃO



-Fabiane Ponte-

30 de mar. de 2008

Segredo


Quando fui encontrada por ti,
fechei os olhos,
segurei nas tuas mãos que a mim estavam estendidas,
e deixei que tu me guiasses por trajetos desconhecidos.


Na hora de voltar, entregaste-me um mapa


Desde então, tenho cavado buracos na minha alma
em busca do tesouro escondido.


-Fabiane Ponte-

10 de mar. de 2008

Desencantado


Não me devolva o sapatinho que perdi
Prefiro o prazer da liberdade
dos meus pés descalços.
Não me acorde do êxtase
provocado pela doce maçã enfeitiçada
que minha curiosidade me levou a provar.
Não reduza meu espaço
Ao teu reinado.
Não me retire da minha torre
Prá me trancar em teu castelo.
Domei dragões
e desfiz feitiços.
Já sou feliz pra sempre!
-Fabiane Ponte-

5 de mar. de 2008

Rubedo



Ela é uma cigana que pinta o cabelo, as unhas
e os lábios de vermelho.

Somente um iniciado é capaz de penetrar nessa alma verdadeira,
exposta e ao mesmo tempo misteriosa.

Ela não se mostra, mas se deixa ver

Ela não se revela, mas se deixa desvendar

Ela dança perto do fogo,
e a beleza de seus movimentos
se confunde com o balé das chamas.

Ao seu eleito, ela se revela bruxa
E vai dançar na Lua Cheia.

-Fabiane Ponte-

6 de fev. de 2008

ÓRFÃ


No meu coração é outono
E me pinto num quadro
usando somente tintas cinzas.

Nele, me encontro de braços abertos
e com o coração fechado.
Estou na ponta dos pés
admirando o precipício.

Em solidão
Em solitude.

Não trago memórias
Não levo esperanças.
Estou totalmente preenchida por um vazio profundo.
A dor está na superfície, na pele, quase chegando na carne.
Minhas grossas lágrimas lutam pra se libertarem de mim.

O único elemento que interage comigo é o AR.
que me sopra aos ouvidos as possibilidades
que me esperam lá no precipício escuro.

No meu coração é outono
E Perséfone volto aos braços de Hades.

Rainha do Mundo Avernal.

-Fabiane Ponte-

Conheça o outro lado da história...

15 de jan. de 2008

Afrodite acorrentada

Adônis meu,

Queria não ser só tua amante,

mas também tua mãe, amiga e irmã.

Queria ter o direito de viver contigo

não alguns episódios, mas toda uma história.

Queria não ter outros afetos,

e poder me dedicar egoistamente só a ti.




Queria ter asas, e não raízes.



-Fabiane Ponte-

2 de jan. de 2008

Abandono



O meu amor
Deixei-o

Como deixa uma mãe desnaturada
o seu filhinho, embrulhado em panos
na porta de uma casa qualquer.


Deixei-o
E saí sem olhar prá trás
Deixando um pedaço sagrado de mim
E ainda cheia de leite prá alimentar
Indo contra a mais sagrada lei da natureza.


Deixei-o
Como quem se dessacraliza
Abrindo mão de seus sagrados deveres
Dos seus mais preciosos deleites
De todo o sentido da vida.


E sigo em frente
Com a cerviz dura
Com um coração agora tão frio
Com os peitos derramando leite
Com meus instintos amarrados
Com os ouvidos cerrados, indiferentes ao seu choro


Uma mulher destituída do seu sentido de viver.


-Fabiane Ponte-