17 de dez. de 2007

Lilith

Não sou feita de um pedaço teu.
Sou criação independente
feita do mesmo pó
e de saliva e sangue
Desejo e vida


Prefiro o exílio à submissão


Sou teu maior temor

E também teu maior desejo,

mas não podes possuir-me

Pois sou livre

Não sou tua

Sou minha


Eu sou a paixão da noite

Sorrateiramente apareço

em teus sonhos ardentes,

nas noites de Lua Nova


Se permaneço ou sigo adiante

não terás certeza

Pois não sou caminho

Sou abismo


Sou mulher com asas

Meu desejo é a igualdade

De direitos

De prazeres

de ficar por cima


Sou mulher indomada,

Assumo o meu poder

com destemor e força,

entusiasmo e prazer.

-Fabiane Ponte-

"Beleza e força. Poder e compaixão.Gargalhadas e Reverência"

3 de dez. de 2007

Do despeito

"Why do we crucify myself?" - Tori Amos


Me pregaste nesta cruz

com pregos do teu desprezo

Mas com teu odioso feito

Me puseste bem alto,

onde jamais pensei chegar.

Do alto da minha dor

Concedo-te meu mais singelo desprezo

Pois do alto enxergo-te como és: pequeno e ínfimo

Concedo-te também

O meu mais profundo perdão

pois não sabes o que fazes

E nem é digno do sangue que por ti é derramado

por nenhuma gota sequer.

Engana-te se pensas que me matas...

Eu já morri outras mil vezes

E mil vezes ressuscitei!


-Fabiane Ponte-


27 de nov. de 2007

Ártemis


Independo!
Não necessito que me tragas nada
Apenas venha
Pois eu não vou!

Habito a floresta escura
Meus companheiros são lobos selvagens
Não me apetece tua cama macia
Deita-te comigo na relva molhada.
E não me tragas nada

Com meu arco e flecha
Eu mesma miro o alvo dos meus sonhos
Sou a deusa da lua crescente
Guerreira, valente e intrépida

Não necessito de teus cuidados
nem dos teus mimos
Quero ao meu lado um valente guerreiro
E que saiba vir na lua certa
E na lua certa saiba ir...


Não sou bicho doméstico
Não percas tempo ao tentar me domar
Sou selvagem
Da mata
Ando descalça
Meus pés tocam o solo sagrado
E da Mãe Terra sou nutrida de tudo que necessito

Não me tragas nada.
Apenas venha,
Pois eu não vou!

-Fabiane Ponte-

21 de nov. de 2007

Afrodite

Sou amante e amada
De muitos e únicos amores,
Profundos e eternos
No tempo em que duram.

Sou deusa da Lua Cheia
Plena e Madura
Dos homens mãe e amante.

Alquímica
Pois me faço Donzela e Devassa
Para o meu amado.
Meus amores são carnais e etéreos.

Não procuro, deixo-me ser encontrada.

Marginalizada
Queimada em cada bruxa
Apedrejada em cada pecadora
Apontada em cada mulher que se permite
Invejada em cada bela que assume sua fera.

Se ficas comigo, meu bem
Não é por conquista ou posse
O que te prende a mim
É a Liberdade
De ser e apenas estar.


-Fabiane Ponte-
"Não fuja do seu mito... ele te alcança, pois está no teu coração.Somos como avatares, personificando arquétipos no teatro da nossa existência"

16 de nov. de 2007

Duas velas

No meu altar
há sempre duas velas acesas
uma para Santa Maria
outra para Santa Madalena

As duas sempre estão a iluminar meu caminho


Há sempre uma oferenda de lírios brancos e de rosas vermelhas


Maria desperta-me a pureza de coração
Revela-me bondosa e compassiva
Madalena desperta-me a coragem de amar
Revela-me a violência das minhas paixões



No meu altar
há sempre dois sacrifícios oferecidos
Um pra Deusa Demeter
Outro pra Deusa Afrodite



As duas sempre estão a aflorar os meus instintos


Há sempre uma oferenda de ramos de trigo e de conchas do mar


Deméter desperta-me a Mãe eterna
Revela-me protetora e nutridora
Afrodite desperta-me a amante enlouquecida
Revela-me a sensualidade e a força da minha paixão vermelha...



Sou sempre eu mesma ainda que outra.


Um só coração bate nesse corpo de alma dividida


Porque sou plural
Ando sempre aos pares
Nunca estou só
Eu sou nós.

-Fabiane Ponte-

6 de nov. de 2007

LUNAR

Te procuro em minha Lua Crescente
Donzela em busca do Jardineiro
Prepare a terra virgem do meu coração
Arranque todas as ervas daninhas da inocência
Plante na minha alma as sementes da mulher que serei
Cuide-me. Vicejarei

Te procuro em minha Lua Cheia
Mãe e Amante em busca do Rei Guerreiro
Serei tua rainha e súdita
Esplêndida e entronizada
Destemida nas batalhas
Fértil, lhe gero filhos.

Te procuro em minha Lua Minguante
Sábia anciã em busca do Mago
E nessa alquimia
que funde minha alma e a tua
num só elemento
revelo o Mistério.

Te encontro em minha Lua Nova
E mudo as marés.
-Fabiane Ponte-

30 de out. de 2007

Sabores

Depois que me provares
Descobrirás que não sou doce.
Meu sabor exótico e agridoce
Ficará impregnado em tua memória
A simples visão da minha figura
Te abrirá o apetite
A lembrança do meu cheiro
Te fará salivar.

Me perseguir prá saciar a tua gula
Será a tua doce sina.
-Fabiane Ponte-

22 de out. de 2007

Racional


Amada Dama de Copas
Exulberante e Fulgorosa
Rubedo intenso
És a mais verdadeira em mim.
Resignadamente
Destrono-te
E cedo meu reino
À pálida e gélida Dama de Paus
Para que meus objetivos não sejam abandonados
Pois no teu reino,
só a paixão pode levar ao céu
Para que os olhares não sejam desviados
Pois descobri na própria carne
que a paixão condena ao inferno.
-Fabiane Ponte-

15 de out. de 2007

Maremoto

És marinheiro em busca de porto seguro
Prescrutas o horizonte
À procura de terra firme
Desististe de tentar navegar em meu mar revolto
E manejas teu leme em busca de porto tranquilo

Almejas agora
Paz e alento
Calmaria e repouso

Se queres te salvar
segue agora as gaivotas
e pousa na praia
pois a bonança custa a chegar

Meu mar é bravio
Ar e água
vento e sal

Se te rendes
E te afogas em minhas profundezas
Encontrarás
no fundo de mim
no fundo do mar
Todo o silêncio
E a paz mórbida que procuras

Conchas que se abrem em pérolas

Juro
que te guardo
junto aos meus tesouros esquecidos


-Fabiane Ponte-

9 de out. de 2007

Tristesse

Novamente sinto-me perdida
Sem rumo
Sem norte
Jogada à sorte

As minhas retas intenções
Duram somente um breve instante
A minha fortaleza é frágil, desprotegida
Foi novamente invadida.

Meus firmes propósitos
Agora me aborrecem
O ideal de ser fixa
É agora utopia de voar.

Prá onde? Prá um passado
Que guardei lá no futuro
Ficou prá depois
E, embora não queira admitir
Apodreceu
Como fruta esquecida
Sem ser saboreada
Caída do pé de passada.

-Fabiane Ponte-

3 de out. de 2007

Fogo Fátuo

Minha súbita paixão
foi fogo fátuo
provocado pelo meu coração defunto.

Não precisou de faísca
prá se acender.

Te assombrou, eu vi
você até tentou fugir
mas ele te alcançou.

Te queimou um pouco...mas, lembra?
Era assombração
e como tal, se dissipou no ar.

Segue você, com sua queimadura.
Sigo eu, de volta prá sepultura.
-Fabiane Ponte-

21 de set. de 2007

Condenação de Perséfone


Primavera em mim
E Perséfone volto aos braços da Mãe
Não volto a mesma
Pois provei sementes de romã


Condenada
A ir e voltar


Cada descida provoca o desconforto
De explorar áreas ocultas de mim.
No escuro, me revelo
E me descubro
É Revolução.


Cada subida
Provoca o mesmo efeito da luz
Que ofusca os olhos que estiveram fechados
A princípio, nada é nítido
Tudo é disforme e os olhos doem
É Realidade.


Mas, aos poucos, a vida volta a apresentar
contornos familiares
É Rotina.

Nada prá sempre no mesmo lugar: Mulher.
Condenada e agraciada
A ser cíclica e lunar
A subir e descer
A ir e sempre voltar.


-Fabiane Ponte-

20 de set. de 2007

Consultando Dicionários

Palavra Linda:
HAURIR

1. Tirar para fora de lugar profundo;
2. Esgotar;
3. Sorver;
4. Extrair, colher.

Hausto: Ato de haurir

É exatamente o que tenho feito com a minha vida.
Estou bem centrada na minha inconstância - não fujo dela e não a renego.
É a minha natureza, uma deusa Ártemis bem latente.

Cavando buracos na minha alma, eu descobri que quero ser o que sempre fui:
uma bruxa
uma poetisa
uma sonhadora
uma libertária

Pretendo viver essa fase de Rubedo intensamente!

Porque transformar-se é ser o que já era, sem precisar fazer força pra isso.
-Fabiane Ponte-