30 de nov. de 2010

Outrora

Cresço
E a dor do crescimento
Expande-se além dos ossos
Floresço
Coragem e Medo
Lucidez e Espanto
No peito
um coração bate calmo
descompassado pela mundança de ritmo
-de outrora
Na alma
uma senhora
espantada
por não saber mais da donzela
-de outrora
Na íris
serenidade inquieta
órfã do anseio
-de outrora
Do alto do meu trono de rainha
ergo os olhos vislumbrando a torre
prisão da princesa
-de outrora
Cresço
Liberta e alada
Hei de alcançar-me por inteiro
-Fabiane Ponte-

16 de jun. de 2010

No Labirinto




Pela lucidez
Fui condenada a fugir
eternamente
do monstro do labirinto.


Meus sentidos
aguçados pelo tempo
pressentem a sua feroz proximidade.

Sem norte
Agarro-me ao fio da loucura
que conduz-me ao centro
da minha prisão: jardim outonal.
Lá os urros do monstro soam distantes.

É breve.

O monstro espreita-me.

Devora-me.

Cumpro a pena. E o meu destino.

_Fabiane Ponte_




13 de out. de 2009

Do amanhã e seu depois

Guardo-te,
Em segredo,
De mim
dos meus desejos


Guardo-te,
E espero
A ocasião certa
o dia perfeito


Guardo-te
E rezo
Para que dê tempo
E que os anos se apressem


Guardo-te
E aguardo-me
Inteira e pronta
Eterna e breve
-Fabiane Ponte-

10 de jul. de 2009

Frustrada




Sonhos de outrora: abortos


Fantasmas.


Sentença: culpada.



-Fabiane Ponte-

24 de jun. de 2009

Infinito decomposto


Uma estrela no céu é só uma estrela

Uma estrela em uma constelação no céu é só uma estrela


Deserto é areia

Um grão de areia do deserto é só um grão de areia.


Carne e pele são só desejos

Um corpo é carne e pele


Sede e Frio são só clamores

Alma é clamor


Vazio e Plenitude são só saudades

Espírito é saudade


Corpo, Alma e Espírito são só Alguém.

Desejos, Clamores e Saudades são só Alguém

Carne e pele, sede e frio, vazio e plenitude são só alguém.


Deserto não é só areia.

Céu não é só estrela


Um corpo não é só desejo.

Alma não é só clamores.

Espírito não é só saudade


E Alguém estranho é só ninguém.


-Fabiane Ponte-

6 de jun. de 2009

Confissões: I - Do medo

Morrer, e não ter vivido tudo o quanto preciso. Não viver plenamente o que o meu coração anseia desesperadamente. Passar pela existência e não existir. É não saber. Não saber quem sou e nunca o descobrir. É a solidão imensa, buraco escuro e frio. É saber. Saber não ter nascido pra a mediocridade e estar imersa nela. É ser sozinha em meio aos que amam aquela que veem, e não àquela que não ouvem. É ser uma mulher de sombras e não de sol. É estar do lado negro da lua. É habitar cavernas. É ser lagarta que vira borboleta com asas atrofiadas. É querer. É querer desbravar os mundos que estão além da linha do horizonte. É estar sempre adiante, vivendo atemporalmente no amanhã e no por vir. É não ser daqui. É não estar aqui. É ter que usar máscaras de sorrisos pra esconder lágrimas e cicatrizes.
-Fabiane Ponte-

14 de mai. de 2009

Minhas mãos

Minhas mãos são a voz do meu coração mudo.

Em linguagem própria,
gesticulam as palavras reprimidas
e os sentimentos desordenados.

Apertam-se mutuamente quando o peito sufoca,
suam o mesmo frio do estômago,
cerram-se os punhos como cerram-se os dentes.
Rendo-me: estou em minhas mãos.

Levam em suas palmas as marcas
desde sempre gravadas na alma.

As unhas são roídas, assim como os sonhos,
mas ainda assim os procura, tateando no escuro.

Seguem marcadas com o meu destino,
que eu, qual cigana sigo aprendendo a ler.

-Fabiane Ponte-