19 de mai. de 2008

Libertas quae sera tamen


Presa naquele porão, a única distração da menina é um pequeno feixe de luz que atravessa a frestra da janela, nas primeiras horas da manhã.


É a única forma com que ela interage com o mundo externo, e que permite que ela não esqueça de que ainda existe luz, apesar da escuridão a qual está condenada.


É o que lhe garante a sanidade para que não sucumba ao castigo do algoz.


Mesmo condenada à escuridão, ela sabe, vê, prova e comprova que há luz, e que esta é mais poderosa que as trevas.


Dentro dela mesma, pode ser livre e atravessar mundos, pois ainda que contemple tão pequeno raio de luz, sabe que o que vê é só uma parte do grandioso Sol, como ela mesma sabe-se imensa, plena e absoluta, ainda que com aparência de frágil menina aprisionada.


Ela aguarda, pacientemente, como aguarda uma lagarta presa em seu casulo e que, quando se liberta, já não é mais a mesma feia criatura, mas um delicado ser alado. Assim a menina espera acordar um dia, não mais no porão visitado somente por um tímido raio de luz, mas em um grande salão iluminado, e que finalmente seja revelado o que sempre foi, e quem sempre lá esteve.


-Fabiane Ponte-


11 de mai. de 2008

Mulheres sereias



Vou lhes contar uma história, mas em vez de começar pelo tradicional "Era uma vez", vou direto ao final, que não é feliz: Muitas mulheres com as quais você esbarra são sereiazinhas desprovidas de suas belas caudas e de suas encantadoras vozes.


Na versão original de Andersen, a Pequena Sereia salva o príncipe de um afogamento, e este se apaixona por aquela criatura linda e de belíssima voz. Fisgou, mas foi fisgado.


A sereiazinha, sabendo da impossibilidade de viver essa paixão, resolve tornar-se humana. Eu sempre me pergunto: Por que o principe não poderia ter virado um “sereio”? Como sempre, a mulher se molda.


Ela procura então uma feiticeira, e faz um pacto. A feiticeira lhe concede pernas em troca de sua bela voz. Avisou que a sereiazinha sentiria terríveis dores nas pernas para o resto da vida e nunca mais poderia voltar ao fundo do mar.


Ela parte então, à procura do seu príncipe, mas ele não a reconhece, porque se apaixonou por uma sereia de bela voz, e aquela que se apresentava a ele era uma menina muda... Concordam comigo que já viram essa estória?

Mudar, meus amores, é, claro, um processo natural e saudável na vida, mas não significa moldar-se ao gosto de ninguém. Abrir mão da própria essência e se tornar outra pessoa só pra agradar o outro não é prova de amor, é sim prova de falta de amor próprio. E quem não se ama, não pode ser amada!


De repente o homem ou a mulher da sua vida olha pro lado e pergunta: Cadê aquela pessoa que me encantou um dia? Ela olha e só vê uma versão dela mesma.


Ame, mude, mas não abra mão da sua essência.


Fique com a sua voz.


Fique com a sua cauda!!!


-Fabiane Ponte-

5 de mai. de 2008

Quase



És ainda o meu norte

quando deliro de febre

Mas meu mal dura pouco

E rumo em direção oposta.




No caminho de volta

Duas sombras me acompanham




Uma velha louca

chamada Razão

que me grita somente uma resposta: SIM




Uma moça muda

chamada Paixão

que com olhares e gestos

só me responde que NÃO



-Fabiane Ponte-