11 de mai. de 2008

Mulheres sereias



Vou lhes contar uma história, mas em vez de começar pelo tradicional "Era uma vez", vou direto ao final, que não é feliz: Muitas mulheres com as quais você esbarra são sereiazinhas desprovidas de suas belas caudas e de suas encantadoras vozes.


Na versão original de Andersen, a Pequena Sereia salva o príncipe de um afogamento, e este se apaixona por aquela criatura linda e de belíssima voz. Fisgou, mas foi fisgado.


A sereiazinha, sabendo da impossibilidade de viver essa paixão, resolve tornar-se humana. Eu sempre me pergunto: Por que o principe não poderia ter virado um “sereio”? Como sempre, a mulher se molda.


Ela procura então uma feiticeira, e faz um pacto. A feiticeira lhe concede pernas em troca de sua bela voz. Avisou que a sereiazinha sentiria terríveis dores nas pernas para o resto da vida e nunca mais poderia voltar ao fundo do mar.


Ela parte então, à procura do seu príncipe, mas ele não a reconhece, porque se apaixonou por uma sereia de bela voz, e aquela que se apresentava a ele era uma menina muda... Concordam comigo que já viram essa estória?

Mudar, meus amores, é, claro, um processo natural e saudável na vida, mas não significa moldar-se ao gosto de ninguém. Abrir mão da própria essência e se tornar outra pessoa só pra agradar o outro não é prova de amor, é sim prova de falta de amor próprio. E quem não se ama, não pode ser amada!


De repente o homem ou a mulher da sua vida olha pro lado e pergunta: Cadê aquela pessoa que me encantou um dia? Ela olha e só vê uma versão dela mesma.


Ame, mude, mas não abra mão da sua essência.


Fique com a sua voz.


Fique com a sua cauda!!!


-Fabiane Ponte-

10 comentários:

Desnuda disse...

Texto espetacular, Fabiane! Sempre bom e proveitoso te ler, minha querida.

Beijos

Alexandre Gil disse...

disse tudo.

Oliver Pickwick disse...

Li, compreendi e concordo. Mas o pobre do Andersen, um grande escritor, não tem culpa nenhuma. Nasceu no começo do século XIX. Ainda não existiam Virgínia Woolf, Simone de Beauvoir, e Ana Lua, a garota féerica. Quem sabe uma sereia na defesa da espécie?
Se cantares, aposto que revelar-se-á. ;)
Um beijo!

Bruno S. disse...

Muito bom! Os contos de fadas nas versões originais são sempre bem melhores que os modificados. Quiném as pessoas :)

Luiz disse...

Olá Fabiene, obrigado pela visita ao Imperfeito e pelo coment tão gentil. Portas sempre abertas ! É querida, quando as mudanças são impostas elas deformam as pessoas, como a sereia da sua estória, e como isso é comum, não é ? beijo

Anônimo disse...

Eu acho incrível o quanto tantas pessoas se anulam achando que estão agindo em nome do amor.

A entrega recíproca não pode ser sinônimo de anulação. A diferença é tão divertida! Diferença não significa, necessariamente, incompatibilidade.

E não vale a pena deixar de ser quem a gente é (a não ser para nos tornar algo melhor, e que realmente queremos).

Oliver Pickwick disse...

Teiquirisi, babe! Não tenho lado mórbido Uso apenas a imaginação, isto é, avalio o que mais causa temores na maioria das pessoas, e escrevo um conto de terror;)
Um beijo!

P.S.:Não perca a freqüência outra vez, o último post foi em 11 de Maio ;)

SAM disse...

Ótima semana, querida! Bjs

Gabriel disse...

Na ausência de novos textos teus, tive que dar uma olhada nos antigos :)

Na poesia passada.
Existe o norte, e logo você se vira ao sul. A razão diz sim, a moça diz não. Eu só queria saber: o sim e o não, são para o norte ou para o sul?

Estava Perdida no Mar disse...

É. A gente deveria sempre (?) mudar pelo amor a nós mesmos, e não pelo outro. Quero a minha voz e a minha cauda sempre. Isso ninguém me tira.
Beijos