
Presa naquele porão, a única distração da menina é um pequeno feixe de luz que atravessa a frestra da janela, nas primeiras horas da manhã.
É a única forma com que ela interage com o mundo externo, e que permite que ela não esqueça de que ainda existe luz, apesar da escuridão a qual está condenada.
É o que lhe garante a sanidade para que não sucumba ao castigo do algoz.
Mesmo condenada à escuridão, ela sabe, vê, prova e comprova que há luz, e que esta é mais poderosa que as trevas.
Dentro dela mesma, pode ser livre e atravessar mundos, pois ainda que contemple tão pequeno raio de luz, sabe que o que vê é só uma parte do grandioso Sol, como ela mesma sabe-se imensa, plena e absoluta, ainda que com aparência de frágil menina aprisionada.
Ela aguarda, pacientemente, como aguarda uma lagarta presa em seu casulo e que, quando se liberta, já não é mais a mesma feia criatura, mas um delicado ser alado. Assim a menina espera acordar um dia, não mais no porão visitado somente por um tímido raio de luz, mas em um grande salão iluminado, e que finalmente seja revelado o que sempre foi, e quem sempre lá esteve.
-Fabiane Ponte-